domingo, 16 de novembro de 2014

Isto é um pacto - Leia

Autor: Luan Lucio Zanette - @luazito



“Não sei exatamente como começar essa história, afinal na situação atual o que eu menos quero é escrever. Vou começar me apresentando: Meu nome é André, tenho 22 anos e sou estudante de Jornalismo. Sempre fui muito interessado por teologia, e como a minha faculdade oferecia algumas cadeiras sobre isso, cheguei a estudar o assunto um pouco mais a fundo. Esse interesse me levou a fazer, nas horas vagas, pesquisas sobre criaturas mitológicas, como sereias ou dragões, mas principalmente sobre seres do submundo: os demônios.
Como eu era um tanto obcecado quando começava a pesquisar um assunto, meus amigos costumavam me fazer desafios, do tipo “de qual espécie seria a metade peixe ou pássaro de uma sereia?” e “qual seria a velocidade de voo de um dragão?”, ou então “como é uma invocação real de um demônio?”
Isso tudo aconteceu no meu primeiro ano de faculdade. No penúltimo, eu estava em depressão profunda, por causa de muitas coisas envolvendo família, estudos, trabalho e vida amorosa. Foi aí que comecei a imaginar o que aconteceria se eu invocasse um demônio, e isso desse certo. No começo, isso passava pela minha cabeça apenas como uma ideia estúpida, ou uma pegadinha pra se fazer com os amigos. Mas a ideia estúpida foi ganhando força, e em alguns momentos minha mente ficava totalmente obcecada com ela. Quando eu finalmente decidi usá-la, direcionei todos os meus esforços mentais a fazer um trato que fosse aceitável e onde eu não fosse molestado de forma nenhuma. Cobri cada furo que eu consegui pensar antes de tentar a invocação, pois pelo que eu sabia, uma falha e eu poderia estar morto.
Na noite em que eu preparei o ritual, eu estava munido de todos os livros que consegui encontrar, além das minhas próprias anotações, e até mesmo uma cruz, que eu sabia que conseguiria retardar o que quer que tentasse me atacar, não pelo simbolismo, mas pela crença nele, que eu sabia que era muito importante.
No maior dos clichês, iniciei o ritual à meia-noite, em frente à minha casa, pois não queria dar permissão a qualquer ser para entrar lá. Para minha surpresa não funcionou, porém bastaram alguns minutos para que eu visse o que tinha faltado. Com tudo novamente pronto, meu ritual foi feito de fato à 1h11, e eu vi, se aproximando de mim, aquilo que eu tinha invocado.
De longe, foi decepcionante, pois se parecia apenas com uma pessoa, e não com o perfil animalesco que eu tinha traçado. Mas à sua aproximação, pude ver algo a mais, algo que eu não sei descrever com palavras. Cada centímetro dele era absolutamente normal, em todos os sentidos da palavra. Olhos, nariz, boca, braços, pernas, tronco: cada uma dessas partes era perfeitamente humana, e o conjunto que elas formavam também era absolutamente terreno. Porém algo – talvez o instinto – me dizia que eu estava diante de um tornado imenso de maldade, pura e condensada.
Então ele falou comigo, numa voz calma e suave perguntando o que eu queria e o que iria sacrificar para ter. Assim, fiz minha proposta: eu queria talento, sorte e beleza, muito acima do normal. Eu queria ser um destaque, porém não ao ponto de ser suspeito. Ele ouviu com atenção, e não pareceu surpreso quando eu disse que não estava disposto a sacrificar minha alma. Ao invés disso, perguntou o que então eu ofereceria por aquilo que eu pedia. Eu estava preparado para isso, então me ofereci para fazer os pactos no lugar dele, do nosso plano, enquanto usufruía do que ele me daria. Especifiquei que eu trabalharia para ele, fazendo os pactos e condenando as almas a serem engolidas pelo mal, e que enquanto assim fosse, ele não poderia influenciar minha alma, meu corpo ou minha sanidade, e nem a alma, corpo ou sanidade de qualquer pessoa com quem eu me importasse. Nesse instante, o demônio pareceu surpreso. Ele sorriu para mim com uma expressão de profundo interesse e disse na mesma voz suave:
-Garoto, você realmente tem coragem! Eu aceito seu trato, e ainda vou lhe contar uma coisa: todos os 87 humanos que um dia fizeram um pacto desses antes de você não souberam enganar um demônio!
Assim, fechamos nosso pacto e ele desapareceu, como se nunca tivesse existido.
Em semanas, minha vida mudou. Eu me tornei um aluno modelo, recebi uma gorda herança de um tio que eu nem sabia existir, e meu corpo gradualmente passou a tomar formas que sugeriam que eu tivesse uma alimentação perfeita e uma rotina de exercícios igualmente boa, o que nem de longe era verdade. Eu vivia feliz, apenas com o segredo de que eu teria que continuar a fazer pactos, pois o demônio também foi astuto e disse que, para que eu continuasse vivo, eu teria que condenar pelo menos uma alma para cada mês que eu vivesse. Eu pensava ter escrúpulos, escolhia as pessoas menos afortunadas, e as oferecia o mesmo trato: “você terá sorte, e coisas boas irão acontecer, mas você viverá apenas metade da vida que teria, mas quando morrer, será atirado num vazio sem consciência”. Isso não era problema para a maioria, eram almas que acreditavam já estar no inferno, e que a perda de consciência seria uma benção. Assim fui passando os meses, e ao final de um ano eu já tinha condenado almas suficientes para viver por duzentos anos, sem me preocupar.
Então agora, às vésperas da minha formatura, eu pensava estar mais feliz do que nunca, e tudo parecia estar perfeito quando eu voltava de mais uma festa de sexta feira.
Entrei no meu quarto, e ao acender a luz, ele estava lá: o mesmo demônio que eu tinha invocado, sentado na minha cama brincando com um ursinho de pelúcia que eu tinha desde criança, e que eu tinha usado como um talismã quando estava em depressão. O demônio ergueu a cabeça para mim, sorriu calorosamente (é difícil imaginar isso, mas considere que, ao menos na aparência, ele é completamente humano) e começou a falar: - Então, meu querido André, que bom trabalho você tem feito! Pelas minhas contas, você pode viver mais 187 anos e 11 meses, sem sequer condenar mais nenhuma alma! Meu garoto, você se esforçou demais! Por sua causa, eu engoli tantas almas que agora sou capaz de vir para esse plano quando quiser! - ele pareceu pensativo por alguns instantes, e então acrescentou – Mas agora, já que eu posso vir eu mesmo para seduzir as pessoas a serem devoradas, não preciso mais de você, não é mesmo?
Terminando de falar, ele deu o sorriso mais tresloucado e assassino que já passou pela face de um ser humano, e avançou na minha direção, mas antes de me tocar, eu consegui reunir presença de espírito e responder, quase gritando:
-Temos um trato! você não pode me tocar!
-Bem lembrado – Disse ele – mas, o fato é que eu não preciso mais do trato, e você nunca específicou que ele não poderia ser desfeito por qualquer uma das partes. Eu acho que lhe disse, que nenhum humano antes de você fez um pacto sem nenhuma falha, certo? Então é de se esperar que você imagine que o seu trato também tem uma.
-Mas... mas... eu lhe dei todo esse poder! você não pode me compensar por isso com a minha vida?
Quando eu disse isso, o demônio deu uma sonora gargalhada de prazer, tão alegre que demorou vários segundos até que ele conseguisse se acalmar o suficiente para falar -Meu pequeno humano, você realmente me divertiu até aqui, então acho que posso fazer um novo trato: vou pegar seu 187 anos, e transformar em horas, o que vai dar algo em torno de quase 8 dias em que não vou te engolir. Use eles bem – sorriu ele.
- Não há jeito de me salvar completamente? Ou pelo menos pelo tempo de uma vida normal?
Depois de mais uma estridente gargalhada, ele continuou:
-Você é uma peste insistente não é? Tudo bem, como estou me divertindo, se você conseguir mais uma alma, dobrarei esses 8 dias, e depois disso dobrarei de novo a cada nova alma, parando no seu tempo de vida original. E vou te dar uma informação adicional:
demônios já foram humanos, que, igualzinho a você, condenaram outras almas. Quando se chega a um certo número de almas condenadas, você é puxado para baixo, e quem passa a ser invocado é você. Isso é tudo que eu vou oferecer, nem insista por mais.
Chorando, aceitei o segundo trato com o demônio, sabendo que minhas chances eram suficientes, afinal eu conseguiria almas suficientes para viver normalmente. Assim que foi concluído, ele disse “agora vamos deixar um pouco mais divertido, afinal eu só disse que não te mataria”, e em velocidade impossível, comprimiu minha têmpora com o punho, me fazendo perder os sentidos.
Acordei no hospital 6 dias depois, e assim que soube disso, eu vi que não teria chance nenhuma, e que o segundo trato só serviu para prolongar meu desespero.

Então, subitamente, vi uma luz.

Um pacto que poderia ser feito por mim, sem a minha presença

Um pacto que restauraria toda a minha chance de viver.

A crença é importante, e eu acredito que isso é um pacto, e isso já basta.

Você leu até aqui, não?

Você agora vai ter sorte, muita sorte, para o resto da sua vida.

Mas sua vida não durará o que tinha que durar.

E no fim, não será paraíso nem inferno, só escuro e nada.

Me desculpe, eu estava desesperado.

Eu precisei me salvar.

Até mesmo ser puxado para baixo é melhor que a morte.

Espero que entenda.

André”.


10 comentários:

  1. Respostas
    1. O pacto é apenas você ler, ele não precisa aparecer para você e conversar com você, apenas a simples leitura já torna o pacto real

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  2. E o direito do consumidor? Não sou obrigado a aceitar um produto que não quero! Devolve meu dinheiro agora. Digo, devolve minha alma agora.

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  3. hahahaahahah ja q vou ter sorte vou pra vegas hahahahahahah

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  4. hahahaahahah ja q vou ter sorte vou pra vegas hahahahahahah

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  5. Eu to com medo!!! Sério! Eu to chorando! Alguém me manda um email esclarecendo isso! Eu quero minha alma de volta!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Kkkkkkkkkk. Comico para de paranoia pois ler esse artigo não faz uma pessoa vender a alma para o demonio.
    Muito criativo esse autor gostei do suspense, realmente prende quem está lendo!

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  8. Le essa porra em 2016 ate agr n tive sorte nehuma! QUERO MEU DINHEIRO DE VOLTA??

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