Autor: Luan Lucio Zanette - @luazito
“Não sei exatamente como começar essa história, afinal na situação atual o que eu
menos quero é escrever. Vou começar me apresentando: Meu nome é André, tenho 22
anos e sou estudante de Jornalismo. Sempre fui muito interessado por teologia, e como a
minha faculdade oferecia algumas cadeiras sobre isso, cheguei a estudar o assunto um
pouco mais a fundo. Esse interesse me levou a fazer, nas horas vagas, pesquisas sobre
criaturas mitológicas, como sereias ou dragões, mas principalmente sobre seres do
submundo: os demônios.
Como eu era um tanto obcecado quando começava a pesquisar um assunto, meus
amigos costumavam me fazer desafios, do tipo “de qual espécie seria a metade peixe ou
pássaro de uma sereia?” e “qual seria a velocidade de voo de um dragão?”, ou então
“como é uma invocação real de um demônio?”
Isso tudo aconteceu no meu primeiro ano de faculdade. No penúltimo, eu estava
em depressão profunda, por causa de muitas coisas envolvendo família, estudos, trabalho
e vida amorosa. Foi aí que comecei a imaginar o que aconteceria se eu invocasse um
demônio, e isso desse certo. No começo, isso passava pela minha cabeça apenas como
uma ideia estúpida, ou uma pegadinha pra se fazer com os amigos. Mas a ideia estúpida
foi ganhando força, e em alguns momentos minha mente ficava totalmente obcecada com
ela. Quando eu finalmente decidi usá-la, direcionei todos os meus esforços mentais a
fazer um trato que fosse aceitável e onde eu não fosse molestado de forma nenhuma.
Cobri cada furo que eu consegui pensar antes de tentar a invocação, pois pelo que eu
sabia, uma falha e eu poderia estar morto.
Na noite em que eu preparei o ritual, eu estava munido de todos os livros que
consegui encontrar, além das minhas próprias anotações, e até mesmo uma cruz, que eu
sabia que conseguiria retardar o que quer que tentasse me atacar, não pelo simbolismo,
mas pela crença nele, que eu sabia que era muito importante.
No maior dos clichês, iniciei o ritual à meia-noite, em frente à minha casa, pois não
queria dar permissão a qualquer ser para entrar lá. Para minha surpresa não funcionou,
porém bastaram alguns minutos para que eu visse o que tinha faltado. Com tudo
novamente pronto, meu ritual foi feito de fato à 1h11, e eu vi, se aproximando de mim,
aquilo que eu tinha invocado.
De longe, foi decepcionante, pois se parecia apenas com uma pessoa, e não com o
perfil animalesco que eu tinha traçado. Mas à sua aproximação, pude ver algo a mais,
algo que eu não sei descrever com palavras. Cada centímetro dele era absolutamente
normal, em todos os sentidos da palavra. Olhos, nariz, boca, braços, pernas, tronco: cada
uma dessas partes era perfeitamente humana, e o conjunto que elas formavam também
era absolutamente terreno. Porém algo – talvez o instinto – me dizia que eu estava diante
de um tornado imenso de maldade, pura e condensada.
Então ele falou comigo, numa voz calma e suave perguntando o que eu queria e o
que iria sacrificar para ter. Assim, fiz minha proposta: eu queria talento, sorte e beleza,
muito acima do normal. Eu queria ser um destaque, porém não ao ponto de ser suspeito.
Ele ouviu com atenção, e não pareceu surpreso quando eu disse que não estava disposto
a sacrificar minha alma. Ao invés disso, perguntou o que então eu ofereceria por aquilo
que eu pedia. Eu estava preparado para isso, então me ofereci para fazer os pactos no
lugar dele, do nosso plano, enquanto usufruía do que ele me daria. Especifiquei que eu
trabalharia para ele, fazendo os pactos e condenando as almas a serem engolidas pelo
mal, e que enquanto assim fosse, ele não poderia influenciar minha alma, meu corpo ou
minha sanidade, e nem a alma, corpo ou sanidade de qualquer pessoa com quem eu me
importasse. Nesse instante, o demônio pareceu surpreso. Ele sorriu para mim com uma
expressão de profundo interesse e disse na mesma voz suave:
-Garoto, você realmente tem coragem! Eu aceito seu trato, e ainda vou lhe contar
uma coisa: todos os 87 humanos que um dia fizeram um pacto desses antes de você não
souberam enganar um demônio!
Assim, fechamos nosso pacto e ele desapareceu, como se nunca tivesse existido.
Em semanas, minha vida mudou. Eu me tornei um aluno modelo, recebi uma gorda
herança de um tio que eu nem sabia existir, e meu corpo gradualmente passou a tomar
formas que sugeriam que eu tivesse uma alimentação perfeita e uma rotina de exercícios
igualmente boa, o que nem de longe era verdade. Eu vivia feliz, apenas com o segredo de
que eu teria que continuar a fazer pactos, pois o demônio também foi astuto e disse que,
para que eu continuasse vivo, eu teria que condenar pelo menos uma alma para cada
mês que eu vivesse. Eu pensava ter escrúpulos, escolhia as pessoas menos afortunadas,
e as oferecia o mesmo trato: “você terá sorte, e coisas boas irão acontecer, mas você
viverá apenas metade da vida que teria, mas quando morrer, será atirado num vazio sem
consciência”. Isso não era problema para a maioria, eram almas que acreditavam já estar
no inferno, e que a perda de consciência seria uma benção. Assim fui passando os
meses, e ao final de um ano eu já tinha condenado almas suficientes para viver por
duzentos anos, sem me preocupar.
Então agora, às vésperas da minha formatura, eu pensava estar mais feliz do que
nunca, e tudo parecia estar perfeito quando eu voltava de mais uma festa de sexta feira.
Entrei no meu quarto, e ao acender a luz, ele estava lá: o mesmo demônio que eu tinha
invocado, sentado na minha cama brincando com um ursinho de pelúcia que eu tinha
desde criança, e que eu tinha usado como um talismã quando estava em depressão. O
demônio ergueu a cabeça para mim, sorriu calorosamente (é difícil imaginar isso, mas
considere que, ao menos na aparência, ele é completamente humano) e começou a falar:
- Então, meu querido André, que bom trabalho você tem feito! Pelas minhas contas,
você pode viver mais 187 anos e 11 meses, sem sequer condenar mais nenhuma alma!
Meu garoto, você se esforçou demais! Por sua causa, eu engoli tantas almas que agora
sou capaz de vir para esse plano quando quiser! - ele pareceu pensativo por alguns
instantes, e então acrescentou – Mas agora, já que eu posso vir eu mesmo para seduzir
as pessoas a serem devoradas, não preciso mais de você, não é mesmo?
Terminando de falar, ele deu o sorriso mais tresloucado e assassino que já passou
pela face de um ser humano, e avançou na minha direção, mas antes de me tocar, eu
consegui reunir presença de espírito e responder, quase gritando:
-Temos um trato! você não pode me tocar!
-Bem lembrado – Disse ele – mas, o fato é que eu não preciso mais do trato, e
você nunca específicou que ele não poderia ser desfeito por qualquer uma das partes. Eu
acho que lhe disse, que nenhum humano antes de você fez um pacto sem nenhuma
falha, certo? Então é de se esperar que você imagine que o seu trato também tem uma.
-Mas... mas... eu lhe dei todo esse poder! você não pode me compensar por isso
com a minha vida?
Quando eu disse isso, o demônio deu uma sonora gargalhada de prazer, tão alegre
que demorou vários segundos até que ele conseguisse se acalmar o suficiente para falar
-Meu pequeno humano, você realmente me divertiu até aqui, então acho que posso
fazer um novo trato: vou pegar seu 187 anos, e transformar em horas, o que vai dar algo
em torno de quase 8 dias em que não vou te engolir. Use eles bem – sorriu ele.
- Não há jeito de me salvar completamente? Ou pelo menos pelo tempo de uma
vida normal?
Depois de mais uma estridente gargalhada, ele continuou:
-Você é uma peste insistente não é? Tudo bem, como estou me divertindo, se você
conseguir mais uma alma, dobrarei esses 8 dias, e depois disso dobrarei de novo a cada
nova alma, parando no seu tempo de vida original. E vou te dar uma informação adicional:
demônios já foram humanos, que, igualzinho a você, condenaram outras almas. Quando
se chega a um certo número de almas condenadas, você é puxado para baixo, e quem
passa a ser invocado é você. Isso é tudo que eu vou oferecer, nem insista por mais.
Chorando, aceitei o segundo trato com o demônio, sabendo que minhas chances
eram suficientes, afinal eu conseguiria almas suficientes para viver normalmente. Assim
que foi concluído, ele disse “agora vamos deixar um pouco mais divertido, afinal eu só
disse que não te mataria”, e em velocidade impossível, comprimiu minha têmpora com o
punho, me fazendo perder os sentidos.
Acordei no hospital 6 dias depois, e assim que soube disso, eu vi que não teria
chance nenhuma, e que o segundo trato só serviu para prolongar meu desespero.
Então, subitamente, vi uma luz.
Um pacto que poderia ser feito por mim, sem a minha presença
Um pacto que restauraria toda a minha chance de viver.
A crença é importante, e eu acredito que isso é um pacto, e isso já basta.
Você leu até aqui, não?
Você agora vai ter sorte, muita sorte, para o resto da sua vida.
Mas sua vida não durará o que tinha que durar.
E no fim, não será paraíso nem inferno, só escuro e nada.
Me desculpe, eu estava desesperado.
Eu precisei me salvar.
Até mesmo ser puxado para baixo é melhor que a morte.
Espero que entenda.
André”.
Não entendi o final
ResponderExcluirO pacto é apenas você ler, ele não precisa aparecer para você e conversar com você, apenas a simples leitura já torna o pacto real
ExcluirE o direito do consumidor? Não sou obrigado a aceitar um produto que não quero! Devolve meu dinheiro agora. Digo, devolve minha alma agora.
ResponderExcluirhahahaahahah ja q vou ter sorte vou pra vegas hahahahahahah
ResponderExcluirhahahaahahah ja q vou ter sorte vou pra vegas hahahahahahah
ResponderExcluirEu to com medo!!! Sério! Eu to chorando! Alguém me manda um email esclarecendo isso! Eu quero minha alma de volta!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirKkkkkkkkkk. Comico para de paranoia pois ler esse artigo não faz uma pessoa vender a alma para o demonio.
ResponderExcluirMuito criativo esse autor gostei do suspense, realmente prende quem está lendo!
Que foda, heuheu
ResponderExcluirLe essa porra em 2016 ate agr n tive sorte nehuma! QUERO MEU DINHEIRO DE VOLTA??
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